Páginas

buv


Nomes D


quinta-feira, 31 de maio de 2007

Quando você passou por mim, flamejante e gloriosa, chamando-me para segui-la, eu não poderia faze-lo.Deslumbrei-me com a sua luz e segui com longos olhos a auréola que a envolvia.Encontrava-me maltrapilha, descalça, de mãos úmidas pelas lágrimas que tentara enxugar nos olhos dos aflitos e, amarfanhada, não dispunha de indumentária para apresentar-me ao seu lado. Desejei com natural movimento recompor-me para segui-la, mas escutei inusitada voz chamar-me de repente. Ao atender ao apelo deparei com jovem mulher que abortara criminosamente e, agonizante, orava, arrependida...Depois de socorre-la desejei seguir com você.Outra voz sofredora clamava por mim, convocando-me ao labor. Era um menino órfão que a ventania da noite batia vigorosamente, conduzindo-o à criminalidade e ao vício. Vi-me constrangida, eu que também sou pobre, a rogar para ele agasalho em outro coração, legando-o a modesto lar onde porta generosa se lhe abriu convidativa e fraterna.Sorri feliz! Voltou-me então, à mente, a lembrança do seu vulto iluminado. Tranqüila, dispuz-me a avançar, a fim de alcança-la. Mas, nesse momento, um coral entoando patética melodia repercutiu aos meus ouvidos, arrastando-me pelo caminho das vozes. E em plena escuridão, no sudário da noite, fui encontrando os cantores da dor: um mendigo tombado a rés-do-chão atormentado pela fome; uma mãe solteira tentando agasalhar em trapos um pequenino que ignorava o pai; um ébrio contumaz que bracejava com o delírio; um obsediado gemendo sob o guante de forças ultrizes; um tuberculoso dominado por hemoptise violenta; um paralítico em estertores agônicos, clamando por assistência, rogando todos imediato socorro ante o olhar indiferente de transeuntes noctívagos apressados... Todos exibiam ao comércio do sofrimento as mercadorias das suas misérias.Utilizei-me do silêncio da noite para falar-lhes aos ouvidos e aos corações palavras de alento e ânimo, oferecendo-lhes as moedas da minha ternura, alongando o calor do seu peito a fim de que o sol do outro dia, em chegando, pudesse dar-lhes luz e arrimo, convocando corações piedosos para o culto da assistência. Labutei penhoradamente enquanto tive forças para recolher nos meus braços, que não se cansam, todos esses filhos da aflição que a noite se negava a agasalhar. Quando por fim a madrugada ridente chegou e o sol derramou a sua taça de luz sobre a Terra e eu pude ser dispensada, procurei segui-la, cobrindo a distância que nos separava com pés ligeiros e ansiosos.À luz do dia encontrei-a tremeluzente, em débeis bruxuleios, fraca e desfalecente, ficando penalizada ante a sua paulatina extinção. E você que demandava a sólio do Altíssimo!...Reconheço que você feneceu por caminhar sem ações que a sustentassem qual combustível poderoso de que você não pode prescindir...Se você desejar, porém, receber-me com a força do meu entusiasmo, oh! Fé, iluminando-me por dentro, eu lhe darei a fortaleza do amor, e juntas seguiremos cantando nosso hino de bênçãos, conduzindo conosco os trânsfugas e os caídos até Aquele, cuja passagem na Terra foi uma permanente conjugação do incorruptível verbo “servir”
....Sou a Caridade

Nenhum comentário: